Um ano depois, as investigações continuam a render descobertas a cada nova fase deflagrada pela PF
Antes de 17 de março de 2014, data em que foi deflagrada, a Operação Lava Jato era só mais uma ação pequena contra crimes financeiros no Paraná. Três agentes federais investigavam uma casa de câmbio em um posto de gasolina, de onde veio o nome da operação.
Um ano depois, a Lava Jato se tornou a maior força-tarefa contra corrupção da história do País. Investigações de lavagem de dinheiro revelaram fraudes em contratos e licitações da Petrobras, com um total de desvios estimado em R$ 2,1 bilhões. Nas palavras da própria presidente Dilma Rousseff, no último encontro do G-20, a operação pode “mudar o Brasil para sempre”.
A nova tática da Polícia Federal (PF) envolveu paciência. Em vez de prender os envolvidos um a um logo que descoberto um crime, eles aguardaram para capturar vários de uma vez, munidos do maior número de provas que puderam reunir nas investigações.
Ao longo de 11 meses e nove fases da operação, a Lava Jato desmontou um esquema de corrupção de pelo menos uma década, segundo depoimentos dos réus. Ex-gerente da Petrobras, Pedro Barusco admitiu à PF receber propina para beneficiar empresas e políticos desde 1997.
A Lava Jato provocou uma crise política que se instalou no Planalto e chegou com força ao Congresso, sobretudo quando 47 deputados e senadores do PMDB, PT, PP, PTBS e PSDB foram apontados como participantes do esquema. O Supremo Tribunal Federal (STF) abrirá 28 inquéritos para investigar 54 nomes, a pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
Na semana passada, o ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB) e os atuais governadores Luiz Fernando Pezão (PMDB-RJ) e Tião Viana (PT-AC) entraram na mira do Superior Tribunal de Justiça (STJ) por suposto envolvimento no esquema.
Os números da Lava Jato também são altos em termos de reembolso aos cofres públicos. Até o momento, o Ministério Público diz que R$ 500 milhões já foram recuperados. Outro marco da operação é a devolução de R$ 182 milhões de Barusco, maior quantia repatriada de bancos estrangeiros em casos de corrupção. A informação é do jornal O Globo.
Ideal democrático
Para o cientista político e professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Josênio Parente, a Lava Jato é uma novidade na política brasileira, fruto de uma democracia madura que veio para substituir a “conciliação de elites”.
Parente afirma que a conquista de ética na política é o último passo para chegar ao sonhado Brasil moderno. “Hoje assistimos a dois grupos em busca do poder. Isso faz parte da democracia e causa impactos políticos significativos. Só temo que a Lava Jato desestruture os grandes partidos e a política se torne muito personalista, como ocorreu na Itália após a investigação Mãos Limpas”, explica.
Saiba mais
Os alvos iniciais da Lava Jato eram três doleiros especializados em lavagem de dinheiro.
Um carro de luxo, presente do doleiro Alberto Yousseff para o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, foi a primeira pista da Polícia Federal sobre fraudes em contratos da estatal.
Yousseff estava em liberdade por ter sido beneficiado em delação premiada em outro grande caso de fraude, na Operação Banestado, em 2003.
O doleiro foi preso novamente em 17 de março de 2014, com mais 23 pessoas. Em 2014, ele fez novo acordo de delação premiada com o Ministério Púbico Federal.
No primeiro dia da operação, foram apreendidos 25 carros de luxo, obras de arte, armas e R$ 5 milhões com a participação de 400 policiais em 17 cidades de seis estados brasileiros.
O juiz Sério Moro responsável por julgar réus sem foro especial (privilégio de parlamentares) declarou ter se inspirado no caso Mãos Limpas, na Itália. Nos anos 1990, a operação culminou no enfraquecimento dos dois principais partidos do país e até em suicídio de empresários influentes. Moro já havia julgado Yousseff no caso Banestado.
Fonte: O Povo