Após a prisão de José Maria Marin, ex-Presidente da Confederação Brasileira de Futebol, pelo FBI norte-americano e policia da Suiça, o Brasil voltou a questionar a falta de capacidade, eficiência ou mesmo a isenção da sua estrutura de investigação criminal nos casos envolvendo corrupção nas entidades que cuidam do futebol nacional.
É fato que nem Polícia Federal nem a CPI apelidada de “CPI da Nike” resultaram em prisão ou condenação de pessoas ligadas ao futebol brasileiro, em que pesem as graves denúncias veiculadas por jogadores, imprensa e diversos profissionais do ramo.
Mas por que a Policia Federal norte-americana chegou a essas prisões, e nós no Brasil não?
Em vários sites de jornais de grande circulação, matérias veiculadas à época das investigações pátrias retornaram às manchetes e, de certa forma, ajudam – e muito – a desvendar a incrível inoperância do modelo de investigação brasileiro e o envolvimento direto entre a CBF e aqueles que, em tese, seriam os responsáveis pelas investigações.
“Em 15 anos, a Polícia Federal, no Rio, abriu 13 inquéritos contra a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e o seu ex-presidente Ricardo Teixeira. Nenhum deles obteve resultado até hoje.”
Neste periodo, segue a reportagem, “a CPF patrocinou congressos, viagens, e até cedeu a Granja Comary , centro de treinamento da seleção brasileira, para um torneio de futebol de delegados .”
São fatos graves os que foram denunciados, inclusive ligando Ricardo Teixeira à associação dos delegados de Polícia Federal, quando a CBF teria doado R$ 300.000,00 (trezentos mil reais) para um congresso realizado em Fortaleza, no ano de 2009.
(Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/esporte/2015/05/1635188-inqueritos-da-policia-federal-sobre-cbf-e-teixeira-nao-deram-em-nada.shtml)
Não obstante os graves fatos denunciados, que ensejam os reais motivos da investigação contra a CBF no Brasil não ter decolado, há ainda muito a ser esclarecido à sociedade.
O modelo de investigação criminal no Brasil é de um retrocesso incalculável. A abertura de 13 (treze) inquéritos policiais por delegados de Polícia Federal não cria uma relação diretamente proporcional com o deslinde de crimes cometidos e nem com a condenação dos eventuais investigados.
As investigações deveriam seguir um ritmo célere e coordenado, com intuito exclusivo de se chegar à verdade dos fatos. E por que isso não acontece no Brasil?
Enquanto o poder de formatação e encaminhamento formal das investigações ficar na mão de servidores burocratas, que priorizam oitivas e o questionável indiciamento, ao invés de análise documental e de evidências mais profunda, utilizando do conhecimento multidisciplinar dos seus policiais, com imediato encaminhamento ao Ministério Público para a elaboração da denúncia, as investigações no Brasil nunca terão números de eficiência satisfatórios.
Burocracia, prazos, vai-e-vem constante de inquéritos policiais entre a Justiça e a Polícia, passando novamente pelo Ministério Público, tudo isso revela a saga indigesta da fina-flor da inoperância e do gasto público desnecessário, algo que em países como os Estados Unidos não prosperaria jamais. No caso da CBF, investigar e prender criminosos de alto padrão demonstrou ser algo mais simples, mais rápido, mais eficiente e, principalmente, sem qualquer possiblidade de criação de vínculos entre os que deveriam investigar e os investigados.
Imoral e inconcebível o Brasil ainda utilizar um modelo de investigação que possibilite a vinculação entre o potencial investigador e o investigado, a ponto de este vir a ser palestrante em um congresso privado daquele, e de haver uma troca de homenagens e gentilezas como selo do entrelace formado.
A Fenapef fez denúncias do caso à época e publicou as seguintes matérias:
PARA NÃO ESQUECER: Troféu da vergonha para os policiais federais
http://www.fenapef.org.br/fenapef/noticia/index/25101
Investigados patrocinam encontro da Polícia Federal
http://www.fenapef.org.br/fenapef/noticia/index/25126
A sociedade brasileira não pode assistir pacificamente à degradação do respeito ao trabalho da Polícia Federal e especialmente os policiais federais terão que trilhar novos caminhos em busca de um modelo que não propicie novamente os mesmos erros durante as investigações, seja por omissão, seja por pura ineficiência, sob pena de ter seu nome manchado por elos políticos reprováveis.
A Federação Nacional dos Policiais Federais irá apoiar a CPI que está sendo criada e não medirá esforços para que fiquem esclarecidos os motivos do insucesso das investigações que foram feitas através de inquéritos policiais no Brasil, pela Polícia Federal.
A Diretoria também abrirá agenda junto à Corregedoria da Polícia Federal e ao Ministério da Justiça para que o caso tenha a devida apuração. Um pedido de abertura de CPI específica para apurar a atuação política da associação dos delegados no Congresso Nacional já havia sido aprovado pelo Conselho Nacional de Representantes e deverá ter desdobramentos nos próximos dias.
A sociedade brasileira precisa de explicações e um dos órgãos de maior credibilidade do País – a Polícia Federal – deve dar sua pronta e suficiente resposta.