Eu até consigo entender, quando representantes de entidades de classe, saem em defesa da manutenção do seu status. Não julgo culpados, os milhares de jovens que prestam prova para a carreira de delegado, caindo de paraquedas na função de gestor de polícia. Afinal, se existe a prova, o indivíduo tem os pré-requisitos e o salário é atraente, tem mais é que tentar entrar mesmo.
Mas, diferente dos representantes, que defendem suas classes, vou na direção da defesa da sociedade, que é o que todos, que arvoram a bandeira do espírito público, deveriam fazer. Simplesmente, serei incapaz de refutar os argumentos de ESTUDIOSOS e PESQUISADORES sobre o tema SEGURANÇA PÚBLICA. Pessoas que empenham seu tempo e seus conhecimentos adquiridos ao longo de décadas, na elucidação do emaranhado de problemas que resultam no caos da violência no Brasil.
Sim. O pesquisador Michel Misse está coberto de razão. Não, senhor presidente da Associação de Delegados, as afirmações não estão equivocadas. Evidente é, que existe um sem número de delegados de polícia, que querem simplesmente, SER POLÍCIA. Não seria essa a missão? Ser policial, investigar, colher provas? Então, em que está equivocado o estudo ACADÊMICO, que diz que o Inquérito Policial é anacrônico e fator de atraso nas investigações? Será preciso desenhar?
O excessivo teor jurídico das polícias investigativas brasileiras são uma singularidade no mundo. Temos a instauração de pequenos tribunais inquisitórios em gabinetes de delegacias, com uma atividade cartorária intensa, gerando uma série de procedimentos, que seriam dispensáveis, se o objetivo fim fosse apenas um: FAZER POLÍCIA.
Que delegado de polícia, com espírito verdadeiramente policial, não iria gostar de mudanças no método investigativo, que dessem a ele a possibilidade de fazer o que a sociedade espera dele? Ir a campo, colher provas, de forma célere, sucinta e com o objetivo único de elucidar os crimes. Deixando completamente a pose e a vaidade de lado.
Porque se há uma coisa que imobiliza as tentativas de mudança, é a vaidade exacerbada de pequenos grupos, que tem voz ativa em suas entidades. Têm medo de que? Em que a implantação de uma carreira única, aceitando a multidisciplinaridade reinante no mundo, afetaria a posição alcançada através de concurso público lícito e justo, desses gestores?
A própria Polícia Militar, de maneira progressista e sábia, tem caminhado no sentido de instituir carreira única em seus quadros. E vejam, que é uma instituição secular, com fortes influencias coloniais. Mas a realidade do mundo cobra seu preço. Partiu dos próprios oficiais a ideia de criar uma polícia ostensiva com conceitos modernos.
O fato é que a sociedade clama por celeridade, modernidade e eficiência. Ficar sentado em cima de conceitos arcaicos, porque interessa à classe, mostra claramente a falta de zelo pela sociedade que juraram proteger.
Pior ainda é tentar, de forma pueril e pouco embasada por estudos sérios, contrapor os argumentos de quem vive no mundo acadêmico e acompanha de forma metódica e verdadeiramente interessada, o desenrolar dos acontecimentos que mostram o quanto nossa segurança pública é uma piada.
Michel Misse estudou. Estuda. Não é partidário de classe A ou B. Deseja uma sociedade que seja atendida pelas suas instituições. Sinto informar, que o status só será mantido, às custas de muita manipulação de informações e meias verdades. E mesmo assim, saibam... Uma parte significativa da sociedade já sabe comparar o que dá certo com o que não dá. E quando a sociedade cisma. Até analfabeto se transforma em presidente da República.
Fonte: Blog Anjo da Noie