Ser Polícia é ser uma exceção, um ser singular, um indivíduo que vive em um Universo à parte, que só é capaz de compreender quem faz o juramento de defender a sociedade.
Ser Polícia é exercer um sacerdócio, uma função quase mitológica, cercada de lendas e contos o tempo inteiro. Feitos propagados de forma superlativa por colegas que transformam homens comuns em verdadeiros ícones.
Ser Polícia é ser observado de forma diferente por absolutamente todos que o cercam. E a crítica é sempre presente. Benevolente demais, se trata com cordialidade. Bruto demais, se é mais ríspido que o esperado.
Ser Polícia é ser citado como exemplo positivo e negativo em uma única situação, por pessoas de boa ou má reputação. A mesma linha de conduta, julgada como exemplar ou ruim, dependendo do olhar de quem julga.
Ser Polícia é viver numa linha tênue, que separa a paz do caos, percebendo-se já incapaz, de viver longe do caos. Raros são os policiais que combatem o crime nas ruas, próximos à população, que conseguem sobreviver aos dias de calmaria em suas vidas.
Ser Polícia é ser cobrado ao extremo por uma parcela que espera uma atitude, ao mesmo tempo em que a parcela restante espera a atitude oposta.
Ser Polícia é esquecer de si mesmo, quando a necessidade de agir impera, é sentir-se à vontade sob o mais absoluto fogo, com a ausência de medo que apenas os homens incomuns podem carregar consigo.
Ser Polícia é dormir sem dormir, fechar os olhos de olhos abertos, e nunca mais na vida adormecer à noite para acordar pela manhã. Podem contar em poucos dedos de uma única mão, os policiais que conseguem descansar seus espíritos, como deveriam.
Ser Polícia é olhar-se no espelho e perceber-se como um Don Quixote de La Mancha, a encarar moinhos de vento, com um ou alguns Sanchos Pança acreditando na cruzada, que parece não ter fim. Cada dia, uma batalha onde o troféu maior é a volta para casa.
Ser Policia é caminhar ao lado da morte, como se fosse algo comum e de uma normalidade extrema. Ostentam suas cicatrizes e marcas de batalha com orgulho, jamais esquecendo de honrar aqueles que já cumpriram sua jornada.
Ser Policia é ser execrado pela sociedade, quando não atendemos seus anseios particulares, quando prendemos os seus filhos, ou quando criamos opiniões humanistas sobre os bandidos de origem miserável que combatemos.
Ser Policia é ser exposto ao mundo, é ter sua vida devassada, é ser tratado de forma generalizada, por conta de maus profissionais, mesmo sabendo que em qualquer profissão esses maus profissionais existem.
Ser Policia é antes de tudo, acreditar na imortalidade. Não a imortalidade carnal, mas aquela que apenas a certeza de ser alguém diferente da maioria é capaz de trazer ao coração.
Ser Polícia é amar a Polícia, mesmo que às vezes, seja impossível não odiar a Polícia. Pelas vezes que entregamos nossas vidas à ela, que nos vira as costas quando mais precisamos.
Ser Polícia é ser uma luz, uma esperança para muitos, que simplesmente já não têm grandes esperanças.
O policial federal Sandro Araújo é responsável também pelo projeto social Geração Careta e fala sobre segurança pública e o crescimento da violência em todas as esferas da sociedade
Fonte: O Fluminense