O relatório favorável ao impeachment da presidente Dilma Rousseff, apresentado nesta quarta pelo deputado Jovair Arantes, do PTB de Goiás, apenas cumpre mais uma etapa do roteiro traçado pelo presidente da Câmara, Eduardo cunha, do PMDB do Rio. Governo e oposição já sabiam que as disputas na comissão especial do impeachment são batalhas de imagem e de medição de força para o embate real, que acontecerá no plenário. Todos já esperavam que Jovair apresentasse, como efetivamente fez, um texto favorável ao pedido de impeachment que tramita na Casa.
Jovair entregou seu texto, de 128 páginas, apenas 48 horas após a apresentação da defesa de Dilma, feita na segunda-feira, dia 4, pelo advogado Geral da União, ministro José Eduardo Cardozo. Jovair tinha cinco sessões para fazer isso. É claro que textos assim começam a ser escritos muito antes, pela delicadeza do tema e das exigências legais.Contudo, é difícil crer que o relator conseguisse digerir a longa apresentação de Cardozo em tão pouco tempo. Cardozo repetiu em um discurso jurídico, expresso em formato político, tudo que o Palácio do Planalto vem dizendo há meses, mas um relatório da importância do feito por Jovair poderia ser entregue no final do prazo, sem qualquer prejuízo.
No documento, Jovair afirma que há indícios suficientes para o impeachment de Dilma por causa das pedaladas fiscais. Segundo ele, os atos de Dilma “revelam sérios indícios de gravíssimos e sistemáticos atentados à Constituição”. De acordo com o texto, as pedaladas não eram, como sustenta o governo, “meros atrasos ou aceitáveis descompassos de fluxos de caixa, mas constituíam engenhoso mecanismo de ocultação de déficit fiscal, com valores muito expressivos a partir de 2013”. O texto afirma também que, ao aumentar créditos por decreto, sem consultar antes o Congresso, Dilma passou por cima de outro poder. Assim, Jovair pede que os atos de Dilma sejam enquadrados como crimes de responsabilidade pela "abertura de créditos suplementares por decreto, sem autorização do Congresso" e por "contratação ilegal de operações de crédito". As razões jurídicas podem ser discutidas à exaustão. Entretanto, como se sabe desde o início, é a política que terá maior peso na decisão dos deputados quando forem ao microfone declarar seu voto.