Às vésperas da aprovação do impeachment na Câmara, o deputado André Moura (PSC) circulava pelos corredores do Congresso com uma planilha. Nela, eram contabilizadas minuto a minuto as promessas de voto de cada deputado, que indicavam a vitória do grupo, confirmada dias depois. A dedicação lhe rendeu o posto de líder do governo, assim que Michel Temer assumiu a Presidência. A indicação foi logo interpretada como prova da influência do ex-presidente da Casa e aliado histórico de Moura, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Segundo ele, no entanto, se alguma influência pesou, foi a dele sobre 300 parlamentares. “Qual governo não quer um líder que mobiliza 300 deputados?”, jactou-se em entrevista à ISTOÉ. Apesar dos percalços iniciais, Moura comemora os resultados obtidos pelo governo até o momento. “Vivemos a retomada do crescimento. O Brasil dá sinais de estabilização na economia”, afirma.
Apesar de sua atuação parlamentar intensa nos últimos anos, o sr. nunca havia sido alçado ao alto clero. Agora, ocupa o segundo principal cargo na hierarquia da Casa. A que o sr. atribui a ascensão meteórica?
Estou em meu segundo mandato. Já no meu segundo ano aqui na Câmara, cheguei à liderança do meu partido, o PSC. Embora não fosse uma bancada parlamentar muito grande, sempre tive um bom relacionamento com os líderes e os deputados de todos os partidos, fossem da antiga situação ou da oposição. Tanto é que gosto de dizer que fui responsável não por todas, mas por grande parte das principais matérias aprovadas aqui na Casa, as quais presidi ou relatei. Posso citar a redução da maioridade penal, reforma tributária, fim do auxílio reclusão, a nova lei de patentes, CPI da Petrobras, CPI do BNDES. Você não chega lá se não tiver credibilidade e bom trânsito.
Muitos atribuíram sua indicação para a liderança do governo Temer na Câmara à proximidade do sr. com o ex-presidente da Casa Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Nós chegamos à liderança do governo pelo papel importante que eu desempenhei durante o impeachment. Formamos um grupo pequeno, que coordenou o processo na Câmara. Éramos eu e o Mendonça Filho (atual ministro da Educação) na condução. Ali, eu tinha um diálogo quase diário com o presidente Michel Temer e os homens mais próximos a ele. Entendia-me muito com o Eliseu Padilha (Casa Civil), com o Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo). Além disso, todo mundo sabe que eu representava um grupo de partidos que somava cerca de 300 deputados, unidos em torno do meu nome. Assim como outro grupo se organizou em torno do Rodrigo Maia (atual presidente da Casa). Obviamente, a decisão coube ao presidente Michel Temer. Qual governo não quer um líder, como eu, que mobiliza 300 deputados?
O sr. se refere ao Centrão?
Eu diria que o Centrão à época. Hoje, nós todos temos compromisso com o governo Temer e somos uma base única. No dia a dia, atuamos como um bloco só e temos conseguido resultados extremamente positivos. Mesmo com um governo interino, em ano eleitoral, com uma instabilidade na própria Casa. Nada disso contaminou o Plenário e conseguimos blindar as nossas votações. Falaram que a base tinha se esfacelado, porque chegamos a ter 14 candidaturas à presidência da Câmara. De forma alguma. Isso é legítimo e natural da disputa por espaço de poder. Passada a eleição, vira-se a página.
Qual é o balanço que o sr. faz deste início de governo Temer?
Estes primeiros meses têm sido um momento de avanços importantes. Não é fácil iniciar um governo com uma gestão que veio após um processo de impeachment. Após um governo que entregou o Brasil com a inflação na casa dos dois dígitos, com recessão econômica, com 12 milhões de brasileiros desempregados, sem perspectivas, com os investidores correndo do País, por não confiarem mais na gente. Uma situação difícil e delicada, de uma crise econômica extremamente séria e também de uma crise moral, fruto de todos esses esquemas de corrupção da gestão do PT. E quando eu falo PT, leia-se Lula e Dilma. Um partido que sempre se disse mais sério, honesto, íntegro e que, agora, provou ser a legenda mais corrupta do nosso País. Esse partido que é o grande responsável pela maior corrupção da nossa história.
O PMDB, partido de Michel Temer, também aparece em denúncias da Lava Jato. Isso assusta o governo?
O governo do presidente Michel Temer não tem nenhum tipo de esquema de corrupção. E aqueles membros da gestão atual, que supostamente estavam envolvidos, já foram afastados. Isso não assusta o governo e o presidente tem demonstrado isso claramente. Todos citados foram afastados do governo e não fazem mais parte dele. Vimos isso com o ministro Romero Jucá (Planejamento), o ministro Henrique Alves (Turismo), o ministro Fabiano Silveira (Transparência). Temer tem tido posicionamentos muito firmes, que são reconhecidos pela população.
Após o impeachment, qual será o peso do PT na dinâmica do poder no Congresso?
Eles sabem fazer oposição. Hoje, o PT se utiliza muito daquilo que é permitido na Casa, que a gente costuma chamar de “Kit Obstrução”. Mas eles estão conscientes de que cumprem esse papel apenas para poder ter a tribuna e para postergarem a votação das matérias. Só que eles têm sido derrotados. É uma oposição pequena, mas ruidosa e raivosa. Eles destilam muita raiva. Há um momento novo no País. Um momento de retomada do crescimento, em que o Brasil começa a dar sinais claros de uma estabilização na economia, de reunificação. Onde o mercado e os investidores voltam, aos poucos, a acreditar e a reagir positivamente. Tudo isso é o que o PT não queria que estivesse acontecendo.
O enfraquecimento do PT no Congresso se refletirá nas disputas municipais?
Não tenha dúvidas disso. O que nós estamos vendo hoje em todo o País são os candidatos, principalmente os majoritários, tentando se afastar do PT. Hoje, ninguém quer a companhia do PT. Ficar ao lado do PT é atrelar-se à imagem de Dilma. Da incompetência e da corrupção. A imagem de tudo de ruim e de errado que aconteceu no Brasil. Com o governo atual, começamos a virar essa página. Mas o PT torce pelo quanto pior, melhor. Antes, eles não queriam a saída da presidente Dilma para poderem continuar com seus esquemas de corrupção. Depois, com o afastamento, apostaram que o governo Temer não daria certo. Isso tudo foi vencido e a própria população está reconhecendo.
Apesar de oficialmente reunir uma ampla base de apoio na Câmara, o governo não conseguiu alcançar o quórum para votar a renegociação da dívida dos Estados com a União, na última semana. Foi inabilidade política?
De maneira alguma. Primeiro que a renegociação nasceu lá atrás, no governo do PT, mas ele não teve a coragem e o espírito público de enfrentá-la. Há muitos anos, isso é tudo aquilo que os governadores sempre sonharam, principalmente neste momento de crise em que vivem os estados brasileiros. Acontece que o Michel Temer fez, em tão pouco tempo, aquilo que outros governantes nunca fizeram. Sentou, trouxe uma proposta clara. Mas tem de ter uma contrapartida, uma trava, um teto dos gastos. O governo federal vai ter a limitação dos seus gastos, mas os governos estaduais também têm de ter. Senão, vão continuar contratando, contraindo dívidas, e daqui a algum tempo vão bater de novo à porta da União em busca de novos empréstimos. Aquilo que foi possível atender,foi atendido.
No plenário, manifestantes faziam coro de “greve geral”. Isso preocupa o governo?
Nós não podemos viver à sombra de greve. O governo aprova uma matéria, aí se deflagra uma greve porque não contempla o que quer uma determinada carreira ou categoria. Aí, o governo deixa de fazer reforma previdenciária, trabalhista, porque senão vai ter greve. Assim, o Brasil vai virar uma Grécia.
A interinidade do governo dificulta o dia a dia?
Temos uma pauta extensa urgente, ao mesmo tempo em que estamos vivendo um processo de eleições municipais e de Olimpíadas. Isso cria a dificuldade de ter quórum na Casa e traz uma baixa produtividade. As eleições são de fundamental importância para os deputados que querem estar nas suas bases porque o resultado das eleições municipais pode ser a garantia das suas reeleições em 2018. Ou não. E a pauta inclui renegociação da dívida dos estados, medidas provisórias que vão trancar a pauta, a questão do Pré-Sal, da Lei de Governança dos Fundos, a PEC dos Gastos Públicos. Então, agora não tem como fazer, por exemplo, as reformas previdenciária e trabalhista. Essa é uma pauta que só deve chegar após as eleições, por volta de novembro, dezembro. Mas ela já está sendo discutida com a sociedade, com os parlamentares, como é do perfil de diálogo do presidente. Esse estilo do presidente Michel Temer facilita muito o nosso trabalho e vai contribuir para a aprovação de matérias mais polêmicas.
Mas a promessa inicial do Planalto era de encaminhar a reforma da Previdência em junho. Houve um recuo, diante da dificuldade de se alcançar consensos?
Eles não se entendem entre eles, mas a proposta que vai sair de lá, com o entendimento ou não de todas as centrais sindicais, terá a participação de todos. Existem muitas preocupações, a garantia do que foi conquistado ao longo desses anos, a garantia do tempo de aposentadoria. A gente sabe que é uma questão polêmica e que não vai tramitar facilmente na Casa. Mas, ao mesmo tempo, temos de ter responsabilidade com o País. Estamos vendo o rombo previdenciário. Ou se faz uma reforma responsável, ou daqui a alguns anos a Previdência vai à falência. Isso seria desastroso. Lógico que vamos enfrentar o discurso demagógico de quem hoje faz oposição ao governo. Mas sabemos que, se ainda estivessem no poder, não fariam esse tipo de discurso.
Fonte: http://istoe.com.br/%E2%80%9Cha-um-momento-novo-no-pais%E2%80%9D/