A Operação Lava Jato continua comconsequências imprevisíveis para o governo Temer.
"As denúncias contra membros do novo governo não são novidades, estão na lista do [Rodrigo] Janot [procurador-geral da República]", afirma José Robalinho Cavalcanti, presidente da ANPR (Associação Nacional dos Procuradores da República). "O que tem de ser investigado será, como aconteceu até agora. Tem de apurar o grau de envolvimento de cada um."
Para ele, as resistências entre políticos às investigações de corrupção são suprapartidárias. "As iniciativas parlamentares para combater a Lava Jato não são desse governo ou do anterior, são de setores do Congresso", diz. "O presidente Temer e o ministro da Justiça prometeram apoio à operação e total independência, então não acreditamos em interferência, assim como também não havia na época da Dilma, justiça seja feita", diz Robalinho.
O presidente da Ajufe (Associação dos Juízes Federais do Brasil), Roberto Veloso, concorda: "As pressões sobre a Lava Jato sempre ocorreram e não tiveram sucesso. É necessário aprofundar o combate à corrupção e criar mecanismos que fortaleçam as instituições".
No início do mês, ambas as entidades divulgaram um manifesto em conjunto com a AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros) e a Conamp (Associação Nacional dos Membros do Ministério Público) repudiando o projeto que reforma a Lei de Abuso de Autoridade, apresentada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
Na visão dos magistrados, a iniciativa visa cercear o trabalho da Polícia Federal, Ministério Público e Justiça. "A lei de abuso de autoridade é uma lei antiga, que precisa ser revista, mas, da forma que está-se fazendo, parece que o único objetivo é cercear o trabalho da Justiça, assim como o fazem algumas outras iniciativas no Parlamento. É necessário que a imprensa e a sociedade fiquem atentas e façam muita pressão", afirma o presidente da ANPR.
"Vimos esse movimento após a Operação Mãos Limpas, na Itália, que dizimou os dois principais partidos políticos após uma ampla investigação de corrupção e envolvimento com a Máfia. Quando a poeira baixou um pouco, passaram leis que dificultam e impedem até hoje o combate à corrupção naquele país", ressalta o procurador da República.