A Polícia Federal grampeou dois telefones do senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG), com autorização do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin, e pegou conversas do tucano com o ministro do STF Gilmar Mendes e o diretor-geral da própria PF, Leandro Daiello. No caso de Gilmar Mendes, o tucano fez um pedido para que o ministro ligasse para um outro senador pedindo apoio ao projeto de abuso de autoridade. As duas conversas com Daiello tratam de uma visita que o senador deseja fazer ao diretor-geral e da suspensão de um depoimento em inquérito contra ele, porque Gilmar deferiu o acesso às investigações. Foram grampeados dois telefones usados também por Andrea Neves, irmã de Aécio.
— Você sabe um telefonema que você poderia dar que me ajudaria na condução lá. Não sei como é sua relação com ele, mas ponderando. Enfim, ao final dizendo que me acompanhe lá, que era importante. Era o Flexa, viu? — diz Aécio.
— O Flexa. Tá bom, eu falo com ele — responde o ministro.
Gilmar relata já ter falado com os senadores Antonio Anastasia (PSDB-MG) e Tasso Jereissati (PSDB-CE) sobre o tema. Aécio insiste para que o ministro procure também Flexa por ele ser titular da comissão e também "porque ele não é muito assim de entender a profundidade da coisa". Aécio prossegue dizendo que será apresentado um destaque ao texto "só para dar satisfação para a bancada". Logo após desligar o telefone, o próprio Aécio liga para Flexa para avisar que "um amigo nosso em comum" vai telefonar para ele.
Em nota, o ministro do STF diz que, "desde de 2009, sempre defendeu publicamente o projeto de lei de abuso de autoridade, em palestras, seminários, artigos e entrevistas, não havendo, no áudio revelado, nada de diferente de sua atuação pública". "Os diálogos mantidos pelo ministro Gilmar Mendes são públicos e institucionais", conclui a nota.
A PF relata ainda que, dois dias antes, Aécio ligou para o gabinete dele no Senado e pediu que fosse feita uma chamada para o gabinete de Alexandre de Moraes e a transferência para um telefone "na fazenda".
DIRETOR DA PF
No caso do diretor da PF, são dois diálogos registrados no relatório. No dia 24 de abril, Daiello retorna uma ligação feita pelo senador. A conversa começa em tom amistoso, com Daiello afirmando que seu time, o Grêmio, "levou um ferro" no final de semana. O diretor-geral comenta que trabalhou no final de semana e no dia da ligação havia um confronto em Foz do Iguaçu (PR).
— Agora estou com um confronto lá em Foz do Iguaçu (PR) com um monte de gente morta. Tá parecendo polícia aqui senador — brinca Daiello.
Aécio pede, então, para ser recebido pelo diretor para um "café" na quarta-feira, dia 26, porque neste dia tinha uma "visita" à PF. Um depoimento do senador estava marcado para este dia.
— Mas meu amigo, deixa eu lhe falar. Você vai me dar o café esse na quarta. Que eu tô marcado para fazer visita na quarta agora — diz Aécio.
O tucano diz ao diretor-geral que seu depoimento será às 9h "se não tiver problema", e Daiello diz que então lhe aguardará às 8h30 em seu gabinete.
No dia 26, Aécio liga novamente para Daiello, às 8h52. O depoimento tinha sido cancelado na véspera por decisão do ministro Gilmar Mendes. Aécio pede novamente para tomar um café com o diretor. O senador avisa ainda que dois advogados seus estão a caminho da PF para ter acesso a documentos da investigação. A falta de acesso foi o motivo usado pelo ministro para cancelar o depoimento. Daiello disse que receberá os advogados e marcará a nova data. Aécio, então, questiona se pode fazer uma visita a Daiello para falar de reforma da Previdência.
— Depois me concede uma audiência para nós falarmos de Previdência por uns vinte minutos. Veja aí com a sua agência — diz Aécio.
— O senhor manda senador. Só me fala o horário — responde Daiello.
Os dois continuam a conversa, e a audiência fica marcada para as 16 horas do mesmo dia.
Fonte: https://oglobo.globo.com/brasil/ligacoes-telefonicas-de-aecio-com-gilmar-mendes-diretor-da-pf-foram-grampeadas-21366504