Na segunda-feira 12, o empresário Joesley Batista, dono do grupo JBS Friboi, e seu diretor Ricardo Saud prestaram depoimentos na Procuradoria da República no Distrito Federal para detalhar como foram feitos os pagamentos dos valores de corrupção que ele mencionou em sua delação premiada. Segundo Joesley, uma bolada de US$ 150 milhões (R$ 490 milhões ao câmbio atual) estava em contas na Suíça à disposição dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e de Dilma, ambos do PT. O valor foi repassado em dinheiro vivo, notas frias e até como doações oficiais registradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e era parte que o grupo obteve a partir dos financiamentos subsidiados do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
A Procuradoria já sabe que os pagamentos eram feitos no Brasil. A conta em nome de Joesley, mas reservada para Lula, tinha US$ 80 milhões (R$ 262 milhões). A destinada a Dilma, somava US$ 70 milhões (R$ 229 milhões). Segundo o empresário, todos os recursos foram usados na campanha de 2014, quando a petista se reelegeu ao derrotar Aécio Neves (PSDB). Na sexta-feira 9, o TSE concluiu que houve uso de caixa 2 na campanha, mas não cassou a chapa de Dilma, cujo vice era o hoje presidente Michel Temer, por entender que provas obtidas com a empreiteira Odebrecht e com o casal de marqueteiros João Santana e Mônica Moura não poderiam ser usadas. O dinheiro da JBS chegou a abastecer outras campanhas eleitorais petistas, todas indicadas pelo ex-ministro da Fazenda Guido Mantega.
Desde que o assunto surgiu, Lula, Dilma e Mantega têm negado as acusações de Joesley Batista e de outros delatores da JBS. “Essa versão não se sustenta e sua falsidade será atestada na Justiça”, afirmou a assessoria de Dilma, que assegura que ela “jamais teve contas no exterior”. “Um empresário canalha diz que eu tenho conta no exterior, mas a conta está no nome dele, e é ele que movimenta o dinheiro”, ironizou Lula no último Congresso do PT.
Pedala
Apesar das negativas dos petistas, o Ministério Público ainda investiga o caso e quer mais explicações de todas as partes, inclusive dos empresários. O ex-ministro Guido Mantega será ouvido pela Procuradoria, segundo apurou ISTOÉ. A depender do que ouvirem do ex-titular da Fazenda, os investigadores poderão chamar Lula e Dilma para prestar esclarecimentos. Para a Procuradoria, a situação de Dilma é mais complicada que a de Lula. Isso porque o dinheiro atribuído a Lula também foi gasto nas eleições em que Dilma concorreu. Joesley afirma que a petista chegou a indicar que R$ 30 milhões deveriam ser destinados ao amigo Fernando Pimentel (PT), vitorioso no pleito para o governo de Minas Gerais naquele mesmo ano. Já em relação a Lula, o dono da JBS afirma que apenas comunicou a ele que estava usando todo o saldo da “conta corrente” naquelas campanhas, mas que não recebeu resposta nenhuma do petista. Mantega era quem indicava os políticos que deveriam ser beneficiados com os recursos contabilizados nas contas no exterior.
Mantega se complica em duas situações, ambas em vias de serem melhor analisadas pela investigação. Um único evento no exterior pode ter deixado rastros. A pedido do ex-ministro, Joesley transferiu US$ 20 milhões da conta no exterior para outra pessoa. Um ano depois, Mantega solicitou que o valor fosse devolvido à conta. Os procuradores querem saber quem foi beneficiado com o lucro da aplicação financeira. Para isso, faltam os extratos das contas. Outra ponta da investigação trata do empréstimo de US$ 5 milhões feito por Joesley a pedido de Mantega na Pedala Equipamentos Esportivos. O dinheiro nunca foi devolvido e o empréstimo, perdoado. A empresa pertence a um sócio do filho de Mantega, Leonardo.
E-mail secreto
Assim como seu ex-ministro, Dilma também está se encalacrando em novas investigações. Uma delas diz respeito à troca de mensagens eletrônicas por meio de uma conta criada por sugestão da marqueteira Mônica Moura. Segundo Mônica, para não deixar rastros de suas conversas, ambas acessavam a conta no modo rascunho e deletavam as mensagens antes que fossem enviadas. O Ministério Público pediu uma ação cautelar para que o Google, proprietário do domínio gmail, informe quais computadores estavam vinculados ao endereço 2606iolanda@gmail.com. Para isso, é preciso ter acesso aos IPs, números de conexão para internet. Com os registros dos IPs que acessaram a conta, é possível saber se Dilma trocou mensagens usando computadores dos palácios do Planalto e da Alvorada, o que é ilegal.
Outra investigação apura o pagamento de R$ 350 mil da Odebrecht ao ex-assesssor especial de Dilma, Anderson Dorneles. Marcelo Odebrecht afirmou em sua delação que o dinheiro, pago em sete parcelas, era para facilitar a comunicação, “inclusive pelo envio de e-mails notas à presidente”. Na semana passada, a Procuradoria da República no Distrito Federal abriu inquérito sigiloso para investigar o “menino”, como Anderson é chamado por Dilma.
A propina para Lula e DilmaJá a JBS, investigada pela Polícia Federal por fazer operações de câmbio com informações privilegiadas antes da divulgação de sua delação, não pode considerar o acordo de leniência assinado com o Ministério Público como sendo um salvo conduto completo. Pelo trato, o grupo pagará R$ 10,3 bilhões, divididos em parcelas durante 25 anos. ISTOÉ apurou que o pacto não abarca as investigações da Operação Bullish, da Polícia Federal. Isso porque os investigadores desconfiam que os desfalques da empresa contra o BNDES e fundos de pensão foram bem maiores do que o apurado até agora. Joesley deve depor na Polícia Federal para esclarecer prejuízos que, por baixo, beiravam os R$ 30 milhões, mas podem ser muito maiores. A suspeita é que houve “compra de ações da JBS por preço superior à média ponderada praticada na Bolsa de Valores”, conforme mostra perícia contábil da Polícia Federal. Em 14 de junho, a empresa anunciou a contratação de um escritório para um projeto de controle e compliance no grupo.
Em novo depoimento na Procuradoria da República do DF, Joesley Batista explicou como fez repasses milionários a Lula e Dilma no exterior
>Contas na Suíça
A JBS depositou US$ 150 milhões (R$ 480 milhões) em contas de propina em bancos suíços. US$ 80 milhões para Lula e US$ 70 milhões para Dilma. O dinheiro foi usado na campanha de Dilma em 2014.
> Dinheiro vivo e notas frias
Joesley disse que parte foi pago em dinheiro vivo, parte em notas frias e parte como doações oficiais em caixa 1
> Encontros com Mantega
O dono da JBS disse que Guido Mantega operava as contas. Toda semana ele se reunia com Mantega, que lhe passava listas de políticos que deveriam receber doações
> Reunião com Lula
Em 2014, Joesley diz ter se encontrado com o ex-presidente no Instituto Lula e afirmou que todo o dinheiro depositado lá fora foi usado para a campanha da reeleição de Dilma.Fonte: http://istoe.com.br/r-480-milhoes-para-campanha-de-dilma/