Há sete anos no comando da Polícia Federal, o delegado Leandro Daiello, de 51 anos, já enfrentou uma troca de governo e a gestão de sete ministros da Justiça. O diretor-geral da PF balançou no cargo várias vezes. Até pediu demissão recentemente, mas foi convencido a permanecer.
Fontes ouvidas por ISTOÉ concordam que a principal razão para a longevidade de Daiello é o sucesso da Lava Jato. Hoje, em razão da operação, a Polícia Federal é uma das instituições de maior credibilidade junto à população. Qualquer mudança no comando da PF pode ser interpretada como uma interferência nas investigações, significando forte desgaste para o governo. “O custo político de trocar o diretor-geral é muito alto”, avalia Carlos Eduardo Sobral, presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal.
Outras fontes atribuem a sobrevida, que já superou inclusive o longo período em que Romeu Tuma permaneceu à frente da PF, ao próprio Daiello. Ele teve o mérito de não ceder às pressões políticas para interferir na Lava Jato. A equipe de Curitiba, por exemplo, trabalha com plena autonomia. Figuras de peso da cena nacional têm sido investigadas sem restrições.
Leandro Daiello assumiu a direção-geral em janeiro de 2011, a convite do então ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Pouco antes do impeachment de Dilma Rousseff, o ministro era Eugênio Aragão, que até cogitou sua troca, mas não colocou a iniciativa em prática.
Em 2016, também se especulou que Daiello sairia após a Olimpíada do Rio de Janeiro. Mas o estupendo sucesso do plano de segurança desenvolvido por ele para o evento jogou a seu favor. Veio, então, a nomeação do ministro Torquato Jardim em maio. O atual ministro da Justiça falou abertamente, mais de uma vez, que pensava em trocar o diretor-geral da PF. Somente em setembro Jardim bateu o martelo: de novo, Daiello manteve-se intacto.
“O custo político de trocar o diretor-geral é muito alto”
Carlos Eduardo Sobral, presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal
Entre os apoiadores de Daiello, no entanto, estão importantes delegados da Lava Jato no Paraná. Quando a força-tarefa da operação foi encerrada em Curitiba, em julho, os delegados eximiram Daiello de qualquer responsabilidade. Disseram que a decisão partiu do superintendente Rosalvo Ferreira Franco, e do coordenador da Lava Jato, Igor Romário de Paula.
Segundo eles, como a demanda de trabalho diminuiu consideravelmente, não havia mais necessidade de manter agentes exclusivos na Lava Jato. Eles foram incorporados à Delecor, a Delegacia de Combate à Corrupção e Desvio de Verbas Públicas. Mas, como em qualquer gestão, nem tudo são flores. A administração de Daiello é criticada por alguns agentes, escrivães, papiloscopistas e servidores administrativos que acusam o diretor-geral de ter engavetado a proposta de reestruturação salarial. Discreto, Daiello também já teve atritos com alguns delegados. Apesar das (poucas) intempéries, Daiello resiste a tudo e a todos e segue em frente em céu de brigadeiro.
Fonte: https://istoe.com.br/o-sobrevivente-daiello/