O diretor de Segurança do Comitê Olímpico, Luiz Fernando Corrêa, morou por oito meses de graça num apartamento do empresário Haroldo Espínola de Oliveira Lima Filho, dono da OLM Representações. A empresa integra um consórcio investigado por superfaturamento em equipamentos usados no Pan, no Rio de Janeiro, em 2007. A suspeita na contratação da empresa levou o próprio Corrêa a se tornar réu na Justiça. Ele coordenava a segurança dos jogos e, por isso, é apontado pelo Ministério Público como responsável pela contratação.
Ex-diretor da Polícia Federal e ex-secretário nacional de Segurança Pública, Corrêa agora é a autoridade máxima de segurança das Olimpíadas do Rio, em 2016.
Corrêa deixou o comando da PF em janeiro de 2011 e, cinco meses depois, assumiu o posto no Comitê Olímpico. Morou no apartamento do empresário, na Avenida General San Martin, no Leblon, de julho daquele ano a fevereiro de 2012, quando, por breve período, deixou o cargo. Não abriu mão totalmente do benefício — ainda hoje, usa a garagem do apartamento para guardar um de seus carros, um Nissan oferecido a ele pelo Comitê Olímpico.
Corrêa deixou a Diretoria de Segurança meses após assumir o cargo porque foi denunciado pelo Ministério Público Federal sob suspeita de envolvimento na contratação de um consórcio liderado pela Motorola durante o Pan.
Laudo do Instituto Nacional de Criminalística (INC) apontou superfaturamento de mais de R$ 17 milhões no contrato de prestação de serviços e compra de equipamentos para proteção de atletas e autoridades.
Após vencer uma disputa para atuar no Pan, a Motorola contratou a OLM, de Haroldo Espínola, por aproximadamente R$ 7,5 milhões. Dono da OLM, Espínola também é representante da Motorola.
Com base no laudo do INC, o Ministério Público entrou com uma ação por improbidade contra Corrêa e outros servidores públicos, apontados como responsáveis pelo contrato. Rejeitada na primeira instância, a ação foi acolhida pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região em novembro.
Corrêa diz não ver nada de mais em ter morado no apartamento cedido pelo dono da OLM. Segundo ele, o empresário é seu amigo. Eles se conheceram quando Corrêa foi à Paraíba para um encontro com secretários estaduais de Segurança e empresários do setor. Ele afirmou ainda que a OLM foi contratada pela Motorola, e não pelo governo federal.
— Quem ganhou (a licitação) foi a Motorola. Ele (Espínola) nunca fez contrato com a Senasp (Secretaria Nacional de Segurança Pública) ou com a Polícia Federal — disse.
Ele disse que aceitou a oferta do empresário pois, ao ser chamado para chefiar a segurança nas Olimpíadas, não sabia onde seria a sede do seu setor. Optou por moradia temporária até a definição do local, hoje na Cidade Nova. Corrêa também negou superfaturamento na contratação do consórcio liderado pela Motorola.
Espínola disse que cedeu o apartamento porque os dois são amigos e porque ele só usa o espaço eventualmente, quando vem ao Rio.
Fonte: O Globo