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04/08/2019

La casa de papel tupiniquim

De tempos em tempos, uma operação sofisticada e bem sucedida coloca à prova o trabalho de inteligência e investigação das polícias brasileiras. Dessa vez, a ação de roubo ocorrida no terminal de cargas do aeroporto internacional de Guarulhos, em São Paulo, no dia 25 de julho, foi mais uma que teve aspectos cinematográficos. Carro falso de polícia, assaltantes disfarçados, armamento de grosso calibre e gente sequestrada – só não houve tiro, por sorte.

Tudo aconteceu muito rápido: dois minutos e meio, exatamente. Diante das filmagens do terminal de cargas, no qual há o manejo diário e corriqueiro de 42% de tudo que o Brasil exporta e importa, um embarque especifico se transformou em um caso de polícia de 110 milhões de reais. Oito homens armados com fuzis e pistolas, invadiram o local, desceram de dois carros clonados da Polícia Federal, com armas em riste e vestuário próprio de policiais, além dos clássicos distintivos pendurados no pescoço. Encapuzados, aos berros, ordenaram que os trabalhadores, que manobravam as empilhadeiras, pegassem a carga de 718 quilos de ouro e colocassem rapidamente, de forma desajeitada, na caçamba da caminhonete. As cidades de Nova York, nos EUA e Toronto, no Canadá receberiam esse material dividido em 24 malotes com 565 quilos e sete com 153, respectivamente.

No momento do crime, além dos assaltantes, saiu de dentro da falsa viatura, uma personagem chave da trama: Peterson Patrício, de 33 anos, funcionário da empresa GRU Airport, concessionária responsável pela gestão aeroporto internacional. Ele trabalhava na função de supervisor de cargas do terminal. Peterson e sua mulher teriam sido sequestrados um dia antes da execução do crime. Peterson afirmou que a mulher estava na mão dos bandidos e obrigaram que ele colaborasse com o assalto. De uma hora para outra, porém, em um segundo depoimento ao Departamento Estadual de Investigações Criminais (DEIC), Peterson estranhamente teria confessado participação proposital na delinquência. Acabou preso.

Histórico dos crimes

 

O trabalho da Polícia Civil também parece seguir um roteiro. Conta-se, a boca pequena, que minutos após o roubo, policiais federais e civis se reuniram no saguão de embarque de carga e descarga do aeroporto para definir aspectos da investigação. Mas até agora o ouro não foi encontrado. Foram realizadas pericias nos veículos falsos, e efetuadas as prisões do servidor da GRU e de Célio Dias, proprietário do estacionamento em que as viaturas clonadas foram abandonadas, além de Peterson Brasil, apontado como responsável direto pelo assalto. Parte da carga milionária pertencia à empresa Lowers & Associate Internacional, responsável por ressarcir os valores, ofereceu R$150 mil por informações relevantes para elucidar o crime.

As características da ação permitem a comparação com a série espanhola “La casa de papel”, na qual uma quadrilha de nove gatunos, mascarados, liderados por um professor, prepara o roubo do século à Casa da Moeda espanhola. O título da nova aventura poderia ser “La carga de oro” (A carga de ouro). Como quase tudo no caso está incerto, só resta comparar realidade e ficção.

Um antecedente célebre do crime do Aeroporto de Guarulhos foi o roubo ao Banco Central de Fortaleza, Ceará, em agosto de 2005. Nessa ação engenhosa, os bandidos furtaram R$ 164 milhões. Ela inspirou o filme “Assalto ao Banco Central”, que estreou em 2011. Não é difícil imaginar que logo outro assalto com roteiro de cinema pode acontecer – e, se for rocambolesco, poderá servir para um filme ou uma série de televisão.

Fonte: https://istoe.com.br/la-casa-de-papel/