Estudo publicado pela revista Nature analisa investigações feitas entre 2014 e 2016
Três policiais federais brasileiros acabam de publicar, na revista Nature, uma verdadeira radiografia das entranhas de organizações criminosas que atuam na chamada dark web para compartilhar e disseminar pornografia infantil. Com base em dados de operações realizadas entre 2014 e 2016, Bruno Requião da Cunha, Luiz Walmocyr dos Santos Júnior e Jean Fernando Passold, em parceria com especialistas irlandeses, demonstraram que as investigações atingiram um patamar de 60% de eficiência, num universo onde o teto potencial é de 90%.
Em cooperação com pesquisadores da Universidade de Limerick na Irlanda, os policiais federais brasileiros fizeram uma análise profunda dos bancos de dados anônimos da operação Darknet da Polícia Federal. O estudo tornou- se um artigo científico denominado Assessing police topological efficiency in a major sting operation on the dark web” (Avaliando a eficiência topológica policial em uma grande operação de infiltração na dark web) e foi publicado na última quinta-feira (9), na edição especial de física social do periódico Scientific Reports da renomada revista britânica Nature.
Entre 2014 e 2016, agentes da Polícia Federal monitoraram as atividades de 182 usuários de um fórum de pornografia infantil que reunia cerca de 10 mil usuários. Foi essa a base do estudo. Os policiais-autores mergulharam no banco de dados da operação “Darknet” para descobrir qual a melhor maneira para combater redes de pornografia infantil na deep web e dificultar, assim, a criação de novas estruturas similares.
Eles descobriram que a estrutura das redes que interligam os criminosos que se dedicam à pornografia infantil é muito próxima dos modelos adotados por terroristas. Isso significa que as dificuldades para desmontar ambas se assemelha. Eles acreditam que os métodos desenvolvidos possam ser utilizados para aumentar ainda mais a eficiência de futuras operações do tipo.
Uma internet sombria
A internet é como um grande iceberg. A parcela que conhecemos, utilizamos em nosso cotidiano e pode ser encontrada utilizando qualquer canal de busca é a superfície. A Deep é composta por sites não indexados, mas que podem ser encontrados. Normalmente é onde ficam os dados sigilosos.
A Dark Web é uma parte mais “sombria” da Deep web. A quase totalidade dos domínios nesta parte da web é voltada para práticas criminosas de todo o tipo, como sites associados a tráfico de drogas, exploração infantil, serviços de assassinos de aluguel, sites com vídeos reais de pessoas sendo torturadas até a morte, domínios voltados a tráfico humano e comportamentos bizarros.
A maioria dos domínios da Dark Web são compostos por strings (cadeia de caracteres, geralmente utilizada para representar palavras, frases ou textos de um programa) de letras e números sem o menor sentido. Apenas quem tem os domínios e credenciais completos é autorizado a entrar nesses sites. Ou seja, o acesso a esse “pântano” da web exige o uso de ferramentas poderosas de criptografia e proteção dos dados.
Um texto especial sobre o artigo pode ser acessado em inglês no blog Behavioural and Social Sciences da revista Nature: